VIDAS CONSUMIDAS
Num ensaio notável, o filósofo e professor da
Universidade de Grenoble, Gilles Lipovetsky, aborda a temática do consumo e a
sua relação com a felicidade do individuo contemporâneo.
Numa passagem do texto ele escreve o seguinte:
«Numa sociedade em que a melhoria das condições de
vida materiais praticamente ascendeu ao estatuto de religião, viver melhor
tornou-se paixão coletiva, o objetivo supremo das sociedades democráticas, um
ideal nunca por demais exaltado.
Entramos assim numa nova fase do capitalismo: a
sociedade do hiperconsumo.
Eis que nasce um novo tipo de Homo Consumerious,
voraz, móvel, flexível, liberto das antigas culturas de classe, imprevisível
nos seus gostos e nas suas compras e sedento de experiências emocionais e de
(mais) bem-estar, de marcas, de autenticidade, de imediaticidade, de
comunicação.
Tudo se passa como se, doravante, o consumo
funcionasse como um império sem tempos mortos cujos contornos são infinitos.
Mas estes prazeres privados originam uma felicidade paradoxal: nunca o
individuo contemporâneo atingiu um tal grau de abandono.»
Porque gosto de pensar, aprecio naturalmente os
pensadores. Mesmo, como acontece muitas vezes, quando estou em desacordo com as
suas abordagens.
Neste caso, estou de acordo. Há cada vez mais bens
materiais disponíveis, mas nem por isso os indivíduos são mais felizes. É tempo
de percebermos porquê. Talvez seja porque uma vida sem causas nem valores, não
se vive. Apenas consome-se!
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