NOVO DESEMPREGO: AS FRAGILIDADES DE UMA OPÇÃO PRODUTIVA NACIONAL



O confinamento social foi uma dura prova para os portugueses. Mas teve uma peculiaridade: revelou sinais de fragilidade daquela que parece ser a estratégia produtiva nacional – os serviços e o turismo. Os dados sobre o desemprego inscrito nos centros de emprego durante os meses desse confinamento revelam um agravamento do desemprego, sobretudo explicado – não pelo desemprego industrial ou na construção - mas pela paragem nas atividades ligadas ao turismo, concentradas regionalmente nas zonas de Lisboa e Vale do Tejo e a Sul desse território. Só o Algarve representou 20% dessa subida. Por outro lado, os meses de março e abril – habitualmente períodos de subida de ofertas de trabalho – registaram fortes quebras três quartos explicadas pelo setor dos serviços. Esta tendência poderá ser, todavia, agravada, caso o desconfinamento não se reflita numa retoma imediata dessas atividades. Das 102.489 empresas com 1.258.938 trabalhadores que pediram os apoios do lay-off até 5 de maio passado, cerca de 80% delas e 73% dos trabalhadores laboram no setor dos serviços, podendo o lay-off constituir uma antecâmara do desemprego. Esta concentração do desemprego nos serviços é reflexo das medidas tomadas para controlar a pandemia, mas igualmente da fragilidade de uma estratégia produtiva assente nessas atividades. Ao longo das últimas quatro décadas, os serviços têm sido as principais atividades a explicar a expansão do emprego nas fases de retoma, mas igualmente a criação do desemprego desproporcionado nas épocas de recessão. Por outro lado, essa volatilidade tem se traduzido numa instabilidade contratual refletida nos elevados contingentes de novos desempregados que se verificam mesmo em fases de retoma. Uma instabilidade que tende a ressentir-se quando se verifica qualquer choque externo como foi o caso desta pandemia. 
Barómetro das Crises
Observatório sobre Crises e Alternativas
Centro de Estudos Socias da Universidade de Coimbra

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