OS MEUS CONFINAMENTOS



Os anos dão-nos serenidade e capacidade de adaptação. Eles ajudam-nos a procurar na memória das nossas vidas, dificuldades vividas e formas como as ultrapassámos. É assim que conseguimos encarar as adversidades como desafios, testes à nossa resistência.
É nesta sequência que dou por mim a evocar a Páscoa vivida há 47 anos, no aquartelamento de Tenente Valadim, na região do Niassa-Moçambique, onde cumpri uma comissão de serviço na guerra colonial.
Confinado no quartel, rodeado de capim por todos os lados, menos pela estrada que nos conduzia ao aldeamento da Mataca, bem como à pista onde aterravam os pequenos aviões que nos traziam correio e abastecimentos, ali comemorei esta época tão significativa. Comigo, muitos outros camaradas, jovens como eu, enviados para aquele "buraco", onde permanecemos largos meses.
Hoje aqui no meu escritório, em casa, olho pela janela e, numa via da cidade por onde em condições normais transitam dezenas de veículos a toda a hora, o silêncio é total. Um silêncio apenas perturbado pelos pássaros que esvoaçam nas árvores plantadas, mesmo em frente ao meu prédio. 
Volto a recordar o silêncio da mata africana, apenas cortada pelos ruídos de animais que, normalmente, não víamos.
Finalmente comparo o confinamento de hoje com o que vivi há 47 anos e, deste modo, encontro razão para me resignar com a falta do frenesim da cidade, que tanta falta me faz.

Comentários

Mensagens populares