INVESTIR NOS SERVIÇOS NACIONAIS DE SAÚDE


Numa interessante entrevista concedida ao jornal  Expresso pelo médico António Sarmento, que dirige o serviço de infecciologia do Hospital de São João no Porto, questionado sobre se os sistemas de saúde estão ou não preparados para uma crise com a dimensão da criada pelo Covid-19, respondeu de uma forma que vale a pena atender:

" Ninguém está preparado para uma catástrofe. O que caracteriza a catástrofe é uma desproporção entre o número de vitimas e os recursos necessários. Não era possível preparar o dia a dia. Imagine que temos, por exemplo, 20 ventiladores por mil habitantes. São números inventados. Chegam perfeitamente para o dia a dia. É muito difícil estar a programar o número de camas, o numero de ventiladores , o numero de enfermeiros para uma crise em que vai aumentar 50 ou 100 vezes o volume normal. Nenhum sistema de saúde aguenta isto. Economicamente não é possível. Os recursos são finitos. O que tem é de estar preparados em termos organizacionais para, se surgir uma coisas destas, quais são os passos a dar. O que se tem de fazer, o que se tem de produzir. Itália tem belíssimos hospitais, como Espanha. Mas isso não basta. Tem de haver uma rede de saúde pública a funcionar bem. Posso dizer que têm belíssimos hospitais, mas os melhores hospitais do mundo não resolveriam o problema de uma crise com milhões de pessoas. O que resolve é um sistema de saúde pública que impeça que haja, num período muito curto, esses milhões de casos."
E acrescenta: " Estamos a caminhar para um liberalismo e para uma situação de desvio de interesses para outras coisas.Notamos que o SNS em Inglaterra está com muitas dificuldades. Até a Alemanha está com desinvestimento e com dificuldades. Isto pode ser uma oportunidade para o futuro. Pode ser que os países pensem em voltarem a preocupar-se  com os SNS, que desleixaram. Os países todos. Não é só Portugal".

Palavras sábias que agora ganham particular importância, pois elas alertam consciências, interrogam opções, desafiam modelos políticos e abrem caminho para o muito que é preciso mudar, quando conseguirmos vencer a maior crise de saúde pública enfrentada pelo mundo, no tempo das nossas vidas.

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