NA TUA, MINHA e NOSSA MADRUGADA




Há precisamente 44 anos estava em Vila Cabral, Niassa, norte de Moçambique, em transito para Lisboa, para usufruir de um período de férias e conhecer a minha filha, nascida em setembro de 1973.
Deitara-me tarde na noite anterior, pelo que nesse dia (25) dormi mais do que era normal. A meio da manhã o Rocha (médico do meu Batalhão que vinha de férias na mesma data que eu) bate à porta do meu quarto. Levanto-me para abrir a porta. O Rocha, de olhos muito abertos e de sorriso desbragado, anuncia-me " Houve uma revolução em Lisboa!". 
Há distância de 44 anos ainda não consigo descrever o que senti naquele momento. Sei sim que ficamos ali à conversa, tentando percebermos como aceder a mais noticias sobre tão extraordinário acontecimento.
Contrariamente ao que desejava, fiquei mais dois dias em Vila Cabral, só podendo chegar a Lisboa já ao fim do dia 27 de abril, para então conhecer a minha Guida e usufruir deste novo país, embora sabendo que, umas semanas depois, regressaria a Moçambique onde permaneci até Novembro de 1974.
Neste dia, como em todos os anos anteriores, lembro-me sempre deste episodio, respondendo à velha pergunta sobre "onde estava no 25 de abril".
Desta vez evoco os meus camaradas do BCAÇ 4811 e em particular o António Martins (Tó Martins) com quem partilhei (naquelas intermináveis madrugadas passadas no aquartelamento de Tenente Valadim), tantas ideias criticas ao regime que durante 48 anos  oprimiu o nosso povo.
Nos últimos dias o Tó Martins dedicou um poema ao Capitão Salgueiro Maia, simbolo maior dos militares de Abril.
Associando-me à iniciativa do Tó Martins, tanto na homenagem a Salgueiro Maia como na evocação desse dia inesquecível, transcrevo o poema da sua autoria.


Na tua madrugada

Tu foste
naquela madrugada
a pátria inteira
e um sonho antigo
a renascer em ti.
Um homem e a coragem
para sempre abraçados
num largo de Lisboa
e os cravos todos de Abril
nascendo-te da alma
e desabrochando,
viçosos e firmes
no teu peito.
Tu foste
naquela madrugada
a pátria inteira.
Na tua madrugada.

António F. Martins


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