UMA MENTIRA OBSCENA




Um dia destes o jornalista-comentador-escritor Miguel Sousa Tavares afirmou, no alto da sua cátedra televisiva de especialista  de tudo, afirmou: “Em Portugal, os bombeiros ganham por incêndio e por quilómetros percorridos. Há países onde eles ganham por área não ardida. E porquê? Porque a prevenção está intimamente ligada ao combate aos fogos”.
Esta afirmação, para além de ser uma obscena mentira, revela uma atitude perconceituosa relativamente a uma instituição que presta anualmente ao país mais de 1 milhão e 300 mil serviços, dos quais resulta diariamente o salvamento de dezenas de cidadãos, vitimas de incêndios urbanos e industriais, emergências pré-hospitalares, acidentes rodoviários, busca e resgate, colapso de estruturas e outros. Naturalmente que os bombeiros também combatem incêndios florestais, porque este tipo de intervenção também lhes foi legalmente atribuída.
Em Portugal Continental existem 30.754 bombeiros no quadro activo, 22 796 voluntários e 7958 profissionais. Os primeiros integram-se em corpos de bombeiros voluntários e não recebem remuneração, podendo auferir um prémio de disponibilidade no dispositivo de combate aos incêndios florestais, no valor de 1,85 euros/hora por um período de serviço de escala. Quanto aos bombeiros profissionais, tanto os inseridos nos corpos de bombeiros da administração local como nos detidos por Associações Humanitárias de Bombeiros, eles recebem a remuneração correspondente à sua situação laboral.
Deste modo só com uma grande capacidade ficcional – que se reconhece no escritor Miguel Sousa Tavares – é possível proferir  um tão absurdo insulto, no palco que semanalmente detém na SIC.
É confrangedor ver a forma ignorante e irresponsável como tem sido abordada a realidade dos bombeiros portugueses nos últimos meses, numa clara intenção de forçá-los a partilharem culpas com outros, na catástrofe que ceifou a vida a 110 pessoas.
É verdade que há necessidade de melhorar muito a estrutura dos bombeiros, em especial robustecendo a sua capacidade de intervenção nas centenas de alertas de socorro que diariamente reclamam a sua intervenção, na defesa de pessoas e bens. Por isso entendo ser inadiável a profissionalização da primeira intervenção em todos os corpos de bombeiros do país.  
É necessário qualificar os elementos de comando dos corpos de bombeiros, começando desde logo por alterar o perfil de recrutamento destes, tornando-o mais exigente.
É necessário criar no âmbito do Estado uma entidade que exerça a fiscalização, orientação e coordenação operacional dos corpos de bombeiros, protagonizada por técnicos de carreira tendo por base perfis funcionais adequados e avaliações de mérito, libertas de critérios de afinidade partidária. É necessário isto e muito mais.
Mas é também necessário que nos diagnósticos que se fazem, haja honestidade de propósitos e bom senso. É exigível que esses diagnósticos não sirvam os interesses que apostam na fragilização dos Bombeiros para conquistar o espaço que ambicionam, há muito tempo.
Finalmente é urgente que a instituição Bombeiros assuma a sua responsabilidade, fazendo-se ouvir perante o poder político, para impedir que a opinião pública seja contaminada pelo efeito mediático produzido pelos chamados líderes de opinião, tantas vezes portadores de uma perigosa ignorância, apesar de sentenciarem sobre tudo, com a arrogância que os caracteriza.
Sim esta é a hora de pensar nos Bombeiros de hoje e nos que precisamos para amanhã.
Vivemos um momento exigente, mas também exaltante, que impõe a capacidade de gerar propostas audaciosas, que se imponham pela sustentação e qualidade das soluções que protagonizem.





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