ESTA É A HORA!
A catástrofe de Pedrogão Grande, ocorrida faz hoje precisamente três meses, constitui uma expressiva fonte de aprendizagens e ensinamentos,
no que concerne ao sistema de protecção civil, tal como ele se encontra
estruturado em Portugal.
Estão em curso múltiplos relatórios, inquéritos e
estudos tendo em vista, sobretudo, apurar responsabilidades. Deste modo
procuram-se alguns bodes expiatórios, sobre os quais se possam imputar todas as
culpas. Com o processo em curso, corre-se o risco de se perder uma excelente
oportunidade para ir ao âmago do problema. E qual é o problema?
Passaram 10 anos desde a última reestruturação do
sistema de protecção civil, ocorrida em 2006-2007. Após um início de século
marcado pela instabilidade politica e a sucessiva mudança de responsáveis dos
serviços do sistema, foi possível conceber e estabilizar o modelo e a estrutura
do mesmo, centrado nas competências da Autoridade Nacional de Protecção Civil,
entretanto criada.
No período em análise ocorreram quatro momentos de
provação do sistema, todos associados a um dos riscos identificados no
território do Continente. Refiro-me aos incêndios florestais de 2003,2005,2013
e deste ano de 2017.
Pela sua natureza espacial, meios empenhados,
multiplicidade de entidades e instituições envolvidas, complexidade do
comportamento do fogo, avaliação sistemática de variáveis cientificas – como a
meteorologia e outras –, delimitação de competências e responsabilidades dos
vários níveis do exercício do poder democrático – central e municipal – e a
grande exigência no domínio da decisão estratégica, o combate a um grande
incêndio é uma operação de proteção civil. Mas é também um teste à eficácia e
eficiência do sistema no seu todo.
É aqui que a questão se centra. Em todas as quatro
ocorrências anteriormente referidas revelaram-se fragilidades, que se
repetiram, uma após outra, com trágica gravidade no incêndio de Pedrogão
Grande, dado que neste perderam a vida 64 cidadãos indefesos.
Numa primeira avaliação, o colapso da capacidade de
evacuação das populações ameaçadas pelas chamas, em várias povoações e na
triste Estrada Nacional 236-1; a fragilidade da organização dos serviços
municipais de protecção civil e a falta (ou inoperacionalidade) de instrumentos
de planeamento e intervenção como o Plano Municipal de Defesa da Floresta
Contra Incêndios e o Plano Municipal de Emergência; a deficiente interpretação
da função de Comando de Operações de Socorro nas várias fases da operação; a
falência das comunicações em decisivos momentos, com particular responsabilidade
para as vulnerabilidades – conceptuais? – do Sistema Integrado de Redes de Emergência
e Segurança de Portugal (SIRESP) e a deficiente aplicação do Sistema de Gestão
de Operações na organização do Teatro de Operações, são algumas das debilidades
sistémicas que exigem ponderada análise e sustentada solução.
Face ao quadro exposto, entendo que este é momento
para se parar e refletir sobre o sistema que temos e o sistema de que o país
necessita.
Apurados os resultados eleitorais das autárquicas e
empossados o novos eleitos dos órgãos municipais e de freguesia; concluídos os
relatórios e os inquéritos em curso sobre os incêndios de Pedrogão Grande e
outros ocorridos este ano na região centro; com um governo detentor de tempo
até ao fim da actual legislatura, o ano de 2018 deve ser uma inadiável oportunidade
para se revisitar o sistema de protecção civil, avaliar as suas fragilidades e
robustecê-lo com um conjunto de medidas – não exclusivamente legislativas – que
ataquem as causas das suas debilidades.
Não o fazer é sinal de irresponsabilidade que, no momento próprio, deverá ter a correspondente resposta dos cidadãos.
Comentários
Enviar um comentário