A NOSSA CASA COMUM
A Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, reunida em Fátima de 24 a 27 de Abril, aprovou uma Nota Pastoral intitulada " Cuidar da casa comum- prevenir e evitar os incêndios".
Este documento não teve a atenção que merece da parte da comunicação social portuguesa, enquanto posição oficial da igreja católica portuguesa sobre a problemática dos incêndios.
Por isso transcrevo integralmente o referido documento neste meu espaço de intervenção:
Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa
1 1. O nosso
país, de ano para ano, tem sido de tal modo assolado por incêndios que estes se
tornaram um autêntico flagelo com proporções quase incontroláveis. É a área
anualmente ardida que já supera a de qualquer outro país europeu, mesmo aqueles
que têm condições climatéricas semelhantes à nossa. É o património florestal
que se vai perdendo de uma forma igualmente sem paralelo. São os notórios custos
humanos, sociais, económicos e ecológicos decorrentes desta situação.
Que
fazer? Vamos resignar-nos a uma chaga com tais dimensões, como se de uma
fatalidade impossível de contrariar se tratasse? De modo algum. Estamos
convencidos de que as causas do flagelo dependem direta ou indiretamente da
vontade humana. E, como tal, só pode prevenir-se ou combater-se com eficácia,
se todos nós, desde o cidadão mais simples ao mais responsável, em vez de vãs
lamentações, mudarmos realmente de mentalidade e de hábitos sociais. Quais?
2. Sabemos
que, na origem de muitos incêndios, talvez da maioria, estão comportamentos
criminosos, uns intencionais, outros pelo menos negligentes. Há que apurar não
apenas as causas da dimensão desta prática – o que verdadeiramente ainda se não
conseguiu até hoje – como há sobretudo que detetar e combater interesses que
dela possam beneficiar.
A
punição dos responsáveis, diretos ou indiretos, por tais crimes é não só uma
exigência de justiça, mas deve servir também de mensagem dissuasora contra tais
condutas. Não se esqueça porém que a ação das entidades políticas e judiciárias
depende em muito da colaboração dos cidadãos com informações relevantes para
provar esses factos. Haja a coragem de as prestar.
3. Sabemos
que os incêndios dependem também do estado de conservação em que se encontram
os terrenos e as florestas. Daí as medidas de prevenção, nomeadamente de
limpeza das matas e de ordenamento territorial, que, neste ponto, têm sido
promulgadas pelos responsáveis estatais. Há que respeitá-las, apoiá-las e
segui-las.
Existem
porém casos em que tais exigências podem ultrapassar as capacidades dos
proprietários, quando os terrenos lhes proporcionam rendimentos escassos.
Sendo, mais do que bens individuais, o bem comum que está em causa, há também
que apoiar os proprietários com outros incentivos. E tratando-se de
propriedades do Estado, seja este o primeiro a dar o exemplo no cumprimento das
exigências que impõe.
4. Felizmente
são cada vez mais os cidadãos que, entre nós, se empenham ativamente quer na
prevenção quer no combate aos incêndios. Há quem se dedique, designadamente no
verão, a serviços de atenta vigilância. Nisso e sobretudo no combate
destacam-se os bombeiros pelo profissionalismo e o modo abnegado e
desinteressado com que o fazem, arriscando a própria vida e, por vezes,
perdendo-a mesmo. Honra lhes seja feita pelo serviço que prestam. Como são de
louvar ainda as inumeráveis iniciativas e manifestações de humanismo e
solidariedade que, mormente em casos de perda de habitações e outros bens, têm
surgido entre nós.
Quer
isto dizer que ainda existe, como de resto sempre existiu, o sentido do bem
comum, absolutamente necessário para a prevenção e o combate aos incêndios. Há
que promovê-lo e alargá-lo de tal modo que se torne dominante em toda a
sociedade.
5. Para isso é fundamental que todos olhemos a natureza não como uma simples fonte de
utilidade e rendimento económico e por isso facilmente sujeita a explorações de
tal modo desordenadas que a destroem totalmente. Até mesmo por não nos ser possível
viver sem ela, há que respeitá-la e valorizá-la, na sua bondade, harmonia e
equilíbrio, como um dom que recebemos e um legado que devemos esforçar-nos por
transmitir às gerações futuras.
Veja-se
como o Papa Francisco reforça o mesmo, numa perspetiva crente: «A natureza
entende-se habitualmente como um sistema que se analisa, compreende e gere, mas
a criação só se pode conceber como um dom que vem das mãos abertas do Pai de
todos, como uma realidade iluminada pelo amor que nos chama a uma comunhão universal»
(Laudato si’, 76).
6. Finalmente,
para a mudança de mentalidade e hábitos sociais, tão necessária para a
prevenção e o combate aos incêndios, há que mobilizar toda a sociedade, nas
suas diversas instâncias: o Estado com os seus responsáveis mais diretos; a
Igreja e todas as outras confissões religiosas; as autarquias locais de maior e
menor amplitude; as escolas nos seus sucessivos graus de ensino; a comunicação
social nas suas diversas expressões; as mais variadas associações e muitas
outras instituições, seja qual for a sua dimensão. Mas todos de forma
concertada.
Da nossa
parte, apelamos às comunidades cristãs a que tudo façam para comprometer os
seus membros nesta causa que é tão cristã quanto humana.
Fátima, 27 de abril de 2017
Vou partilhar porque se trata de artigo que merece ser lido por muita gente. A comunicação social na globalidade não se portou bem ao ignorar este assunto. É pena.
ResponderEliminarPartilhei por ser assunto do maior intersse.Lamento a atitude da comunicação social.
ResponderEliminarPartilhei por ser assunto do maior intersse.Lamento a atitude da comunicação social.
ResponderEliminar