A FOBIA DAS BIOGRAFIAS
Em 2011, quando cessou o meu
percurso de 18 anos contínuos como dirigente da Liga dos Bombeiros Portugueses,
um amigo lançou-me o repto: “ Agora já podes escrever a tua biografia
bombeiristica”.
Fiquei a pensar no assunto. Não
tinha falta de material para me lançar em tal empreitada, uma vez que sempre
cultivei a recolha, tratamento e adequado arquivo de informação sobre os
referidos 18 anos da minha vida, intensa e exclusivamente vivida no âmbito dos
Bombeiros.
Neste período não tive qualquer
intervenção de ordem politica ou associativa, circunscrevendo a minha
actividade cívica às responsabilidade como dirigente – um mandato como
secretário, outro como vice-presidente e
quatro mandatos como presidente do órgão executivo – da Confederação.
Depois de reflectir algum tempo
sobre este desafio do meu amigo, conclui que seria despropositado escrever
qualquer biografia, impondo-me deste modo à memória colectiva dos Bombeiros de
Portugal. Por outro lado, sempre entendi que as Biografias, elaboradas após o
exercício de funções, são uma espécie de ajustes de contas ou expressões de
vaidade gratuita que não faz o meu género.
Vêm estas considerações a
propósito da recente publicação de Auto-Biografias de várias figuras públicas,
profusamente publicitadas pelos órgãos de comunicação social.
Estamos na presença de uma
verdadeira fobia narcisista. Ou talvez seja mais do que isto. Há sapos mal
digeridos, ajustes de contas por fazer, vinganças por concretizar, invejas
disfarçadas, desígnios defraudados ou glórias por reconhecer.
Como nenhum dos referidos
sentimentos habitam em mim, não escreverei alguma vez qualquer Auto-Biografia.
Se for caso disso, bastar-me-à saber que sou respeitado pelo que fiz e pelo que faço, pelo que pensei e
continuo a pensar, pelo que sou e nunca deixarei de ser.
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