REFLEXÃO NATALÍCIA
Nos dias de azáfama
pré-natalícia, os espaços comerciais enchem-se de gente à procura das
tradicionais prendas de época. As pessoas acotovelam-se nas lojas dos centros
comerciais. O trânsito automóvel inferniza a vida dos que querem comprar ou dos
que simplesmente querem circular. As ruas ganham particular animação.
Este é o Natal de todos os anos, em especial o
deste ano onde a bolsa da maioria dos portugueses parece respirar de algum
alívio.
Entretanto, para além desta
maioria, há também uma significativa minoria para quem o Natal não pode ser
assim. No bulício destes dias quase todos nos esquecemos deste facto. Mas as
estatísticas lembram-nos.
Na passada semana o Instituto
Nacional de Estatística (INE) divulgou o “Inquérito às Condições de Vida e
Rendimento”, realizado anualmente junto das famílias residentes em Portugal.
Numa primeira conclusão este importante instrumento de informação diz-nos que “
19% das pessoas, residentes em Portugal, estavam em risco de pobreza em 2015”.
Isto quer dizer que esta proporção de pessoas vivia com um rendimento monetário
líquido inferior a 439 euros por mês.
Cerca de dois milhões de
portugueses estão certamente a viver o Natal de forma muito diferente das que
que por estes dias se movimentam freneticamente no espaço público. Para além
destes há ainda cerca de um milhão que vive mergulhado na efectiva pobreza, os
que serão alvo, até à ceia de Natal, de várias ações de solidariedade,
promovidas por múltiplas instituições e grupos sociais.
Natal é quando o Homem quiser,
diz o poeta. Pois é. Mas todos os anos é assim. Lembramo-nos dos pobres neste
tempo de pregação solidária, mas no dia seguinte voltamos à nossa vidinha, sem
nada fazer para que as causas de tanta pobreza sejam minimizadas.
O inquérito do INE fala-nos de
uma causa para a pobreza que anda por aí: “ Mantem-se uma forte desigualdade na
distribuição dos rendimentos”.
O que fazemos para corrigir esta
desconformidade? Constatamos e lamentamos, piedosamente. E com um lamento
tranquilizamos a nossa consciência: “eu não posso mudar o mundo!”
Claro que não, porque o mundo só
mudará quando cada um, no seu espaço e tempo, fizer todos os dias algo para que
ele mude.
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