A QUALIDADE DO SOCORRO E A FOBIA DOS BUROCRATAS
Defendo desde há muito que só há uma
forma de fazer socorro, que é bem. Para que esta evidencia se confirme é
necessária a conjugação de três variáveis que interagem entre si: Organização,
Recursos Humanos e Equipamentos.
Esta trilogia é válida para todas
as tipologias de sistema. Isto significa que também é válida – tem de ser –
para o designado Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM), tutelado pelo
Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Como ainda ninguém fez uma
avaliação de conjunto aos vários sistemas que garantem aos cidadãos o direito a
um socorro de qualidade, não é possível afirmar relativamente ao SIEM se ele,
no ponto de vista da organização, é o melhor. Porém, no ponto de vista da prestação
operacional, e apesar das suas insuficiências, é justo reconhecer que ele tem
cumprido.
No que se refere à qualidade dos
recursos humanos, constata-se que se deram passos muito significativos neste
domínio, em especial quanto à qualidade da formação ministrada aos elementos
dos Corpos de Bombeiros, que asseguram 80% dos serviços prestados no âmbito do
SIEM.
Finalmente e no domínio dos
equipamentos – que inclui os veículos – as diferenças qualitativas são
igualmente significativas, para melhor.
Equacionadas todas estas
variáveis, é absurdo que a função inspectiva exercida pelos serviços do INEM,
quanto ao licenciamento das ambulâncias, se prenda em detalhes de natureza
burocrática, do tipo da que abaixo exponho e que já prejudicaram várias
associações humanitárias de bombeiros, que submeteram as suas ambulâncias à
competente certificação.
Uma ambulância foi à inspecção ao
INEM. Foram detectadas algumas não conformidades, que foram corrigidas. A mesma
ambulância foi a uma segunda inspeção, e nesta foram encontradas outras não
conformidades – que não tinham sido detectadas na primeira inspecção – nomeadamente
nas faixas que se encontram na respectiva traseira, e que têm 11,2 cm de
largura e não 10cm. O burocrata que detectou esta ridícula não conformidade fez
questão de, uma vez mais, não passar o respectivo certificado de inspecção, até
que o 1,2 cm a mais nas faixas seja corrigido.
Não se trata de nenhuma anedota,
pois a situação é real e aconteceu. Parece que o assunto ainda está pendente de
resolução pelo Conselho de Direcção do INEM. Ora é preciso que o burocrata do
INEM que criou este insólito problema seja esclarecido de que a lei não é um
fim em si mesmo, e que o objectivo da função inspectiva é a salvaguarda de que
a ambulância está nas devidas condições para prestar a missão que lhe é
atribuída, no contexto da trilogia que atrás referi.
Tomo esta posição na qualidade de
cidadão, que muito preza as estruturas de socorro do país e que critica todas
as manifestações de estúpida burocracia, como é o caso em apreço.
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