ESTAMOS PREPARADOS?




O ministro da Saúde garante que as estruturas portuguesas de emergência médica estão preparadas para responder a situações graves, como os atentados de terça-feira, em Bruxelas, que causaram 31 mortos e 300 ferido. Adalberto Campos Fernandes disse esta quarta-feira, em Coimbra, que Portugal tem “um dos melhores Institutos de Emergência Médica a nível internacional” e que o INEM tem um plano específico para o terrorismo e outras situações graves.
“Naturalmente que em situações de contingência extrema e com a gravidade daquela que verificámos em Bruxelas, não há país que consiga responder a todas as necessidades em tempo adequado, porque a natureza do acto terrorista é não prevista e descontrolada. Mas nessa matéria temos a maior confiança nas estruturas de emergência médica”, sublinha o ministro da Saúde.
Retiro o texto acima transcrito da edição de ontem do Diário de Notícias. E faço-o porque estas declarações do ministro da Saúde puseram-me a pensar na visão sectorial como muitos governantes olham para este tipo de ocorrências, transformando-os em instrumentos de promoção das áreas da sua jurisdição.
Sabe-se que o INEM tem muita qualidade. Mas reduzir a resposta a uma catástrofe, como a que ocorreu em Bruxelas, à intervenção da emergência médica é simplismo a mais.
Numa ocorrência com as características dum atentado terrorista, em que o objectivo dos seus autores é provocar o maior número possível de vítimas, naturalmente que a resposta da estrutura de socorro pré-hospitalar é essencial. Mas ela está inserida num conjunto de variáveis, cuja funcionalidade é determinante para o sucesso da missão confiada à emergência médica. A questão aqui é saber se o sistema de protecção civil está devidamente integrado e articulado para, quando chamado a situações como a que ocorreu em Bruxelas, está em condições de cumprir com êxito a sua missão.
Um amigo garante-me a partir de Bruxelas que se registaram falhas relevantes no conjunto da resposta, no domínio do safety. Testemunhos de vítimas publicadas na imprensa indiciam o mesmo. Assim sendo, importa analisar (debriefing) com rigor a situação, e transpô-la para um cenário (esperemos que fictício) de ocorrência em Portugal, aprendendo as lições (learned lessons) para fazer melhor. Mas sem espectáculo, no recato da reflexão técnica e do que de politico a ela tenha de ser associado.
Só deste modo estaremos em condições de responder, a cada momento, à questão: estamos preparados?
Reduzir a resposta a campeonatos de destreza sectorial é, no mínimo, insensatez.


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