ENFRENTAR OS “MERCADOS”
Conheço as leis da economia e as
bases teóricas que prevalecem no pensamento económico contemporâneo. Não
defendo a supremacia da economia relativamente à política, uma vez que, na
sequência do que aprendi, a primeira deve ser um instrumento da segunda e não o
seu contrário.
Vivemos num tempo, no país e na
Europa que integramos, em que tudo parece girar à volta do “economês”, isto é,
uma espécie de teoria construída por economistas de encomenda e “operários” da
manipulação de teses económicas, ao serviço de grupos de interesses. É certo
que por falta de comparência de alguns, estes “ilusionistas” não têm tido o
contraditório que era exigível que tivessem, quanto mais não seja por uma
questão de higiene mental dos cidadãos, na sua maioria distantes da ciência
económica e das teses produzidas pelas várias escolas de pensamento
disponíveis. Mas a falta de vergonha na manipulação da opinião pública é
chocante.
Vêm estas considerações a
propósito de uma notícia recente que, infelizmente, tão pouca relevância teve na
maioria dos meios de comunicação social do nosso país (porque será?).
Um tal Peter Boone, canadiano, professor
na Universidade de Harvard e articulista em vários jornais internacionais de
referência, escreveu vários artigos de opinião, em 2010, a propósito das
finanças públicas de Portugal, do qual resultou uma reacção nos famosos
“mercados”, suspeitando-se que tenha sido este artigo que fez disparar os juros
da divida portuguesa. Desta douta opinião, suspeita-se que o seu autor tenha ganho
820 mil euros em operações especulativas, com um fundo de investimento que
detém nos sacrossantos “mercados”. O Ministério Público está a investigar.
Trago esta notícia a este espaço
para que todos nos apercebamos dos interesses que estão por trás dos “mercados”,
manipulados por indivíduos e grupos que, por ganância, recorrem a este modelo
de economia de casino, não hesitando em mandar para a miséria países e milhões
de cidadãos.
O mercado é uma variável incontornável da economia real. Mas tem de
funcionar com regras e com transparência. Tem de possuir moral e ética. Tem de
estar ao serviço dos cidadãos e não ser utilizado, como se passa maioritariamente
nesta Europa, como reduto da fraude institucionalizada e legalizada, por um
sistema político promíscuo e desumano.
É por tudo isto que me arrepia
ouvir afirmar que os “mercados” podem não aprovar este ou aquele Governo,
constituído em Democracia, de acordo com os modelos constitucionais de cada
país soberano.
Está na hora de desmascararmos
todos os “mercadores” que por aí andam, estejam onde estiverem. Está na hora de
dotar os cidadãos dos conhecimentos básicos da ciência económica de modo a
libertá-los da ditadura dos “mercados” e de todos os que vivem (à grande e à
francesa) à sombra deste embuste, sejam jornalistas, comentadores, académicos,
políticos ou meros trapaceiros.
É tempo de perdermos o medo de
arriscar novas soluções e novos caminhos. Há décadas que conhecemos as soluções
dos “mercados” e as suas consequências, que temos pago com “suor e lágrimas”
embora (felizmente) sem “sangue”.
Nestes dias de novos desafios e de
esperança no nosso país, talvez seja uma grande oportunidade para que Portugal
comece a mudar e contribua, com determinação e coragem, para mudar esta Europa,
a que pertencemos e devemos continuar a pertencer. Para desgosto de alguns e
felicidade de milhões.
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