DESASSOSSEGO
O jornal Expresso tem estado a
distribuir com a sua edição semanal um conjunto de livros da autoria de
Fernando Pessoa. No passado sábado foi a vez do Livro do Desassossego.
Já lá vão uns bons anos, desde que
li pela primeira vez este livro e recordo-me ter ficado agarrado aos textos
nele inseridos, escritos em várias épocas da vida deste genial poeta e escritor
português.
Transcrevo hoje parte de um dos
referidos, textos:
“ O exemplo máximo do homem
prático, porque reúne a extrema concentração da ação com a sua extrema
importância, é a do estratégico. Toda a vida é guerra, e a batalha é, pois, a síntese
da vida. Ora o estratégico é um homem que joga com vidas como o jogador de
xadrez com peças do jogo. Que seria do estratégico se pensasse que cada lance
do seu jogo põe noite em mil lares e mágoa em três mil corações? Que seria do
mundo se fossemos humanos? Se o homem sentisse deveras, não haveria
civilização. A arte serve de fuga para a sensibilidade que a ação teve que
esquecer. A arte é a Gata Borralheira, que ficou em casa porque teve de ser.
Todo o homem de ação é essencialmente
animado e otimista porque quem não sente é feliz. Conhece-se um homem de ação por
nunca estar mal disposto. Quem trabalha embora esteja mal disposto é um subsidiário
da ação; pode ser na vida, na grande generalidade da vida, um guarda-livros,
como eu sou na particularidade dela. O que não pode ser é um regente de coisas
ou de homens. A regência pertence à insensibilidade. Governa quem é alegre
porque para ser triste é preciso sentir.”
Comentários
Enviar um comentário