CULPA DO SISTEMA




Por estes dias a rua está dominada pelo rescaldo das eleições do passado domingo. No exercício do direito inalienável de opinar multiplicam-se os comentários, nos cafés, nos restaurantes, nos mercados, nos locais de trabalho, quase sempre reproduzindo o sentido das análises profusamente veiculadas pelas televisões e os seus omnipresentes “politólogos”.
Tanto quanto me foi dado observar, através do meu radar quotidiano, uma parte das opiniões que tenho ouvido atribui responsabilidades da situação do país ao “sistema”, o mesmo é dizer ao regime democrático. Uma conclusão perigosa que, associada aos 4 milhões de portugueses que se negam a votar quando são chamados para exercer este direito – que tanto custou a conquistar, a tantos -, pode antever uma situação de desvalorização da democracia no nosso país.
Num artigo publicado ontem no Diário de Noticias, o professor universitário João César das Neves – de quem discordo quase sempre – chama justamente à atenção para o facto de que “ além dos muitos defeitos evidentes, o sistema também tem benefícios, de que todos, mesmo os queixosos, gozamos largamente, e que poderiam desaparecer se, no meio das acusações, acabássemos por derrubar o odiado regime. É muito mais fácil protestar do que louvar mas, para lá das justas condenações, é preciso considerar a nossa divida para com o sistema”.

Volto à definição de Winston Churchill num discurso proferido à Câmara dos Comuns em 1947: “ De facto tem sido dito que a democracia é a pior forma de governo, exceptuando todas as outras formas que têm sido tentadas ao longo dos tempos”.

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