UMA “BOMBA RELÓGIO” NA EUROPA
Os relatórios preliminares das
agências internacionais humanitárias que nos últimos dias li são elucidativos
da grave situação que se vive na Europa, relativamente ao fluxo de migrantes e
refugiados que, desde o princípio deste ano, procuram um país de acolhimento no
nosso Continente. Esta é a maior crise de deslocação de populações enfrentada pela
Europa desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com informação veiculada pelo
Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
A maioria das centenas de
milhares de pessoas que tentam entrar no espaço da União Europeia (EU) tem por
origem a Síria, Afeganistão, Balcãs e África subsariana. Homens, mulheres e
crianças, vítimas do terror instalado em Estados falhados ou capturados por
fundamentalismos religiosos, fogem desesperadamente à procura do futuro que
lhes é negado nos países onde nasceram.
Face à pressão do fluxo de
pessoas deslocadas e o dramatismo de que se reveste, em especial com a
localização diária de centenas de mortos no Mediterrâneo, na costa
de Itália e da Grécia, a UE tarda em definir uma estratégia conjunta para
enfrentar esta verdadeira “bomba relógio” que ameaça explodir a curto prazo,
com consequências difíceis de prever.
Num texto publicado na edição da
passada segunda-feira no Diário de Noticias, o investigador Bernardo Pires de
Lima critica o facto de que, só daqui a 15 dias os líderes dos países da UE irão reunir, para analisar a situação e constata:
“É sempre lesta a reunir aos
domingos sobre a moeda única, fomentar maratonas negociais para vergar
parceiros ou ter governantes a fazer figuras tristes no Twitter, mas não
consegue arranjar umas horas para, em conjunto discutir medidas urgentes que
salvem vidas e salvaguardem Schengen. É triste, mas não surpreendente, assistir
ao desaparecimento em combate do senhor Juncker, ouvir Durão Barroso-analista
fingir que o Durão Barroso-politico nunca existiu, ver alguns países de leste
comportarem-se com a amnésia própria dos ingratos da história, ter políticos
moderados com medo de franjas, hoje residuais, amanhã maciças, e um Parlamento
Europeu com força prática inversa à que lhe atribui os tratados”.
Esta é uma crise que desafia os
Estados-Membros e as Instituições Europeias a definirem uma estratégia conjunta
de resposta coordenada e articulada, nos domínios da acção humanitária e da
emergência, bem como da salvaguarda da segurança no espaço Schengen.
É a hora de pôr em prática os
documentos aprovados, com pompa e circunstância, nos fóruns europeus. É a hora
de se passar da retórica à acção.
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