PALAVRAS COM GENTE DENTRO
Ana reformou-se com 60 anos, após
40 anos como funcionária pública. Mãe de uma desempregada e avó de uma jovem de
15 anos, a fazer um curso profissional, foi durante vários anos o pilar de
sustentação financeira da família.
Atacada por um cancro fulminante,
Ana lutou durante 6 dolorosos meses pela vida, acabando por ser derrotada.
Falecida a mãe, Mafalda (filha de
Ana) viu-se sozinha com a Rita (neta de Ana) e sem apoio de ninguém.
Apesar de viver em casa própria
que herdou da mãe, todas as despesas caíram sobre Mafalda, sem hipótese de satisfazê-las.
As circunstâncias empurravam-na para o desespero. Mas resistiu. Passou a fazer
limpezas e a passar roupa a ferro, no primeiro caso ganhando à hora e no
segundo à peça.
Há muito tempo que deixou de
receber o subsídio de desemprego. Restou-lhe recorrer a tarefas bem diferentes
das que desempenhara durante 10 anos, no departamento de marketing duma
multinacional que, devido à crise, encerrou a sua actividade em Portugal.
Na escola, Rita confessou um dia
à Directora de Turma que havia dias lá em casa que não tinha possibilidade de comer
duas refeições.
Como o sistema é cego e não permite
que as escolas profissionais prestem apoio social aos alunos, a escola da Rita
criou uma espécie de “saco azul” de onde saem as verbas do apoio social que
presta aos alunos. Assim a Rita passou a receber semanalmente um saco de
compras que, à sucapa, leva para casa.
A Rita terminou o curso este ano.
A mãe continua a fazer limpezas e a passar “toneladas” de roupa em casa. A Rita
está a pensar em emigrar e levar a mãe com ela.
Entretanto, enquanto a mãe está
fora nas limpezas, Rita passa a ferro para ajudar. Todos os dias.
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