O QUE O DINHEIRO NÃO DEVE COMPRAR




“Vivemos numa época em que quase tudo pode ser comprado e vendido. Ao longo das últimas três décadas, os mercados – e os valores de mercado – têm regido as nossas vidas de uma forma nunca antes vista. E não chegamos a esta situação devido a uma escolha deliberada. Foi quase como se nos tivesse caído em cima. “
Esta constatação é feita pelo filósofo norte-americano Michael J. Sandel, professor de ciências políticas na Universidade de Harvard, no seu livro “O que o dinheiro não pode comprar” que acabo de ler.
Trata-se de um livro perturbador que relata vários expedientes utilizados para as pessoas ganharem dinheiro, em várias partes do mundo, questionando os limites morais da oferta e da procura.
Cito alguns exemplos citados neste livro, deixando à consideração dos leitores os juízos sobre um tempo onde deixamos de viver em economia de mercado para sermos uma sociedade de mercado.
“Alugar espaço na sua testa (ou e qualquer parte do seu corpo) para exibir mensagens publicitárias: 777 dólares. A companhia aérea Air New Zeland contratou trinta pessoas para raparem a cabeça e usarem tatuagens temporárias com o slogan Precisa de mudar de ares? Não hesite. Atire-se de cabeça e viaje para a Nova Zelândia.
“Servir de cobaia humana em testes de segurança de medicamentos para empresas farmacêuticas: 7.500 dólares. O montante a pagar pode ser maior ou menor, conforme o grau invasivo do procedimento usado para testar os efeitos do medicamento e o desconforto causado.”
“Combater na Somália ou no Afeganistão ao serviço de uma empresa militar privada: entre 250 a mil dólares por dia. O montante varia consoante as habilitações, experiência de combate e nacionalidade.”
“Ficar na fila durante uma noite à frente do edifício do Congresso dos EUA para guardar o lugar a um lobista que pretende assistir a uma sessão do Congresso: 15 – 20 dólares por hora. Os lobistas pagam a empresas dedicadas a este negócio, as quais contratam sem abrigos e outros indivíduos para ocuparem lugares nas filas.”
“Uma cela de prisão mais cómoda: 82 dólares por noite. Em Santa Ana, na Califórnia, e noutras cidades, os delinquentes não violentos podem pagar melhores instalações: uma cela limpa e sossegada, afastada das ocupadas pelos reclusos não pagantes.”
“Barrigas de aluguer indianas: 6250 dólares. Os casais ocidentais que procuram barrigas de aluguer recorrem cada vez mais a esses serviços na Índia, onde o procedimento é legal e o preço é um terço inferior ao praticado nos EUA.”
Termino este texto citando igualmente as perguntas que o autor formula neste livro e que se impõem a todos aqueles que defendem uma sociedade regida por valores humanistas.

“Queremos uma economia de mercado ou uma sociedade de mercado? Que papel devem ter os mercados na vida pública e nas relações pessoais? Como podemos decidir que bens devem ser comprados e vendidos e quais devem ser regidos por valores não mercantis? Que domínios da vida o imperativo do dinheiro não deve reger?”

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