“FOGO: O QUE FAZER?”
Com este título a Revista Notícias Magazine do passado Domingo publicou
uma carta de leitora, carta esta igualmente publicada na edição do Expresso do
último sábado, embora em versão mais reduzida.
Na carta publicada na revista, a
leitora Filipa Lencastre, escreve:
“Que país triste este onde
vivemos. Que país cinzento. Tal como nos tempos do Estado Novo. Só que agora
não são as pessoas que se vestem de escuro, mas a natureza.
Há quarenta anos que a comunicação
social atribui os incêndios, na sua maioria, às condições atmosféricas. Há
quarenta anos que se fala de época de incêndios como inevitável, qual época
balnear, época de saldos ou época das sardinhas. Há quarenta anos que nada se
faz para atacar o problema a fundo. O essencial seria legislar de maneira a que
ninguém lucrasse com os incêndios. O combate aéreo aos fogos deveria voltar ao
Estado. O salário dos bombeiros deveria ser
fixo, tendo os mesmos funções muito para além do combate aos incêndios, tal
como vigilância, reflorestação e limpeza dos terrenos. O argumento de que
muitos destes terrenos são particulares não é justificação, pois neste caso
apresentar-se-ia a conta ao proprietário não cumpridor. Estas são apenas
sugestões”.
Nesta carta a passagem que
sublinho merece particular atenção, pois revela uma perigosa ignorância
sobre a missão dos Bombeiros. Para a leitora, os Bombeiros deveriam fazer
trabalhos preventivos na floresta, para além de se envolverem no combate. A
leitora revela assim ignorância quanto à intervenção dos Bombeiros ao longo do
ano, nas diversas componentes da sua missão. Por outro lado a referência “O salário dos bombeiros deveria ser fixo”
sugere que ela pensa que os bombeiros recebem em função dos incêndios, isto é
quanto mais incêndios mais recebem.
Dir-se-á que esta é uma opinião
isolada, de uma cidadã pouco informada. Mas este verão já vi outras três
cartas de leitores, publicadas em jornais, expressando a suspeita de que os
Bombeiros possam lucrar com os incêndios.
Trata-se de uma ideia perigosa,
porque perversa e injusta. Por outro lado, é necessário deixar claro à opinião
pública que os incêndios florestais são uma reduzida parte (embora com grande
visibilidade) da actividade anual dos Bombeiros, em todo o território nacional;
que há Bombeiros profissionais e voluntários e que só os profissionais recebem
salário; que os Bombeiros são pessoas qualificadas e formadas para o desempenho
da sua missão e não são “ varredores de floresta”.
Os Bombeiros não podem merecer respeito
só quando morrem em serviço. Têm de ser respeitados como cidadãos dignos e
técnicos qualificados, dando-se combate à ideia desrespeitosa de que os Bombeiros
“são pau para toda a colher”. E neste combate temos todos – os que gostamos da
instituição Bombeiros – de fazer a sua parte. Por isso trago o assunto ao Repórter Caldeira.
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