MORREU UMA SENHORA




Em 2002 registavam-se conflitos em alguns pontos do país, entre Corpos de Bombeiros e Unidades de Socorro da Cruz Vermelha Portuguesa. Eu era, então, Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses e a Dra. Maria Barroso, Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Nesse mesmo ano encontramo-nos numa cerimónia ocorrida na Fundação Luso-Americana, para a qual fomos convidados, em representação das nossas instituições. Decidi abordá-la sugerindo uma reunião para tentarmos resolver o conflito. Acedeu à minha proposta. Duas semanas depois reunimos na sede nacional da CVP. Ouviu as razões dos Bombeiros. Recordo o seu olhar atento e generoso. Depois de me ouvir comentou: “é absurdo que instituições de paz andem em guerra”. Concordei. Acordamos que ambos iriamos tentar pacificar as relações entre as nossas instituições, no respeito mutuo pela missão de cada uma.
Há dois anos voltei a reunir com a Dra. Maria Barroso, desta vez na sua qualidade de Presidente da Fundação “Pro Dignitate” a propósito de um projecto de cooperação. Nessa ocasião ofereceu-me um livro, com uma simpática dedicatória, intitulado “Viagem a Moçambique”, com o relato da viagem que levou a efeito em 1989 aquele país de língua portuguesa, a convite da Conferência Episcopal da África Austral. Falou-me com entusiasmo dessa viagem e da sua ternura pelos povos africanos. Uma vez mais estive na presença de uma mulher de grande dimensão humana e cultural. Uma SENHORA, na amplitude multifacetada desta classificação.

Ontem, aos 90 anos, partiu. Recordei os dois momentos que descrevi anteriormente e conclui que, num tempo de tanta mediocridade, a morte de uma mulher como a Dra. Maria Barroso é uma perda para o país.

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