O ESPECTACULO DA VIOLÊNCIA
Durante uma semana de
imobilização, metade num hospital e a outra metade em casa, tive todo o tempo disponível
para consumir telejornais e espaços noticiosos, debates televisivos e jornais.
Para além do vício, estes meios ajudaram-me a suportar a falta de actividade
diária, da qual tenho uma profunda dificuldade em prescindir.
De tudo o que ouvi, vi e li,
concluo que nos últimos dias Portugal foi tomado por um preocupante espectaculo
de violência. Violência na escola, violência nas famílias, violência nos estádios,
violência nas cidades, violência na sociedade.
Salvaterra de Magos, Guimarães e
Lisboa são apenas três exemplos de lugares onde a violência atingiu a dimensão
de acontecimento massificado, de forma doentia, por todos os meios de
comunicação social.
Os factos são do conhecimento dos
leitores. No primeiro caso um jovem de 17 anos terá morto, de forma selvagem,
um outro miúdo de 14 anos. Em Guimarães um bando de energúmenos invadiu o
armazém do estádio do Vitória de Guimarães, na sequência do jogo deste clube
com o Benfica, vandalizou e roubou as instalações do primeiro clube. Nas
redondezas do mesmo estádio um energúmeno fardado de oficial da PSP agrediu com
brutalidade um “perigoso” pai, acompanhado de dois “perigosos” filhos” e do
“perigoso avô destes. Finalmente na terceira situação ocorrida no centro de
Lisboa, no final das comemorações da conquista do título pelo Benfica, um bando
de arruaceiros confrontou-se com a polícia, provocando o caos na zona do
Marquês de Pombal.
Estes casos são graves em si
mesmo. Mas mais graves se tornaram face à forma doentia como foram tratados
pela comunicação social, sem qualquer critério jornalístico, sem sentido
pedagógico e sem os devidos cuidados, para não se tornarem focos geradores de
tensão e ódios socias.
Pode dizer-se que o triunfo das
audiências é o sucesso da violência. Levado ao extremo, sem regras e sem
dimensão ética, o espaço mediático está a transformar-se em Portugal num
perigoso instrumento de promoção duma cultura de violência, que acrescenta
todos os dias mais agressividade à vida das pessoas, já de si fustigadas com dificuldades
e privações, como a pobreza e o desemprego, entre outras.
Sem pôr em causa a liberdade de
Imprensa, valor fundamental da democracia, talvez seja tempo de se limitar a
libertinagem, de órgãos de comunicação social sem escrúpulos, de comentadores
incendiários e de políticos irresponsáveis.
Se nada for feito, talvez a nossa
tradição de pais seguro se acabe por perder, com prejuízo para todos nós.
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