“VISÃO ZERO” NAS ESTRADAS




Há cerca de 15 anos numa reunião da Comissão Nacional de Segurança Rodoviária (CNSR), que integrei em representação da Liga dos Bombeiros Portugueses, evoquei uma lei adoptada na Suécia, designada “Visão Zero”, que tive oportunidade de conhecer aquando de uma deslocação que fiz àquele país. A referida Lei de Segurança de Transito, aprovada pelo Parlamento Sueco, em 1997, definia como objectivo reduzir drásticamente a possibilidade de alguém morrer ou ficar gravemente ferido, em consequência de acidentes rodoviários.
A “Visão Zero” baseia-se no princípio de que a pessoa individualmente é responsável por obedecer às leis e regulamentos que regulam o ambiente rodoviário. Mas atribui igual nível de responsabilidade a todos aqueles que intervêm na cadeia de segurança: projectistas das estradas, polícias, gestores das concessionárias e decisores políticos.
Isto significa que falhando o automobilista que não obedeça às regras, a responsabilidade volta-se para o sistema rodoviário enquanto garante da protecção das pessoas. O que se pretende é que a estrada evite o erro humano, ou, não conseguindo, que evite pelo menos a gravidade desse erro.
Recordo que na altura a defesa que fiz na CNSR da “Visão Zero”, apoiado pelo representante da Associação de Cidadãos Automobilizados, mereceu reservas das entidades oficiais representadas no referido órgão de consulta. “Utópico”, classificaram.
Há dias a empresa Estradas de Portugal organizou uma iniciativa que contou com a presença de Anders Lie, especialista da Trafikverket (Administração de Transportes da Suécia) que explicou a filosofia da “Visão Zero” e apresentou resultados. A Suécia conseguiu reduzir a sinistralidade rodoviária ao longo da última década, depois de ter estado no topo da EU neste domínio.
Actualmente o referido país do norte da Europa tem um rácio de 3 mortos/ 100 mil habitantes. Portugal regista 11,8 mortos/ 100 mil habitantes (dados de 2010).
A intervenção do especialista sueco foi muito apreciada e teve um grande eco, junto dos presentes nesta iniciativa e da comunicação social portuguesa.
Finalmente, mais de uma década depois, admite-se reflectir seriamente numa estratégia de combate à sinistralidade que resultou noutro país, porque deixou de diabolizar os automobilistas para chamar à responsabilidade todos os intervenientes no sistema rodoviário.   



Comentários

  1. Nesse tempo, nunca se acolhiam os comentários/propostas que fossem colocadas pelo representante da LBP nas reuniões da CNSR, onde também estive.
    "Quando são os de fora a levantar as questões, já vamos pensar no assunto...", são os políticos que temos.

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