CEMITÉRIO DO MEDITERRÂNEO





Infelizmente alguns pensam que o que se passa noutros países não nos interessa e que só nos devemos preocupar com o que se passa no nosso. Infelizmente para muitos os mortos são importantes se forem brancos e europeus mas que valem muito menos se forem negros e africanos. Porém o ser humano enquanto tal, independentemente da raça ou origem, é portador de direitos universalmente consagrados e plasmados em tratados subscritos por quase todos os Estados do mundo. Por isso quando há seres humanos vítimas de agressões aos seus direitos, esse problema é de cada um e de todos nós. 
A Organização Internacional das Migrações (OIM) estimou esta semana que o número de imigrantes a morrer no Mediterrâneo este ano possa ultrapassar os 30 mil, a manter-se a média de uma morte a cada duas horas, resultante do fluxo migratório do Norte de África para a costa europeia.
A tragédia ocorrida no passado domingo com o afundamento de um navio de pesca no Mediterrâneo com mais de 850 pessoas, trancadas e escondidas como carga clandestina, das quais parece só se terem salvo menos de meia centena, forçou a União Europeia a olhar para este grave problema.
Perante a dimensão da tragédia humana que se vive e Itália, Grécia, Malta e Chipre – países directamente afectados pelo desembarque massivo de homens, mulheres e crianças em fuga de países como a Gâmbia, Costa do Marfim, Somália, Eritreia, Mali, Tunísia, Serra Leoa, Bangladesh e Síria – os líderes da União Europeia reuniram ontem de emergência para elaborar um plano de resposta a esta grave crise migratória.
 O que se conclui pelas primeiras informações é que se vai intensificar a vigilância das fronteiras europeias para estancar a êxodo de populações de países do Norte de África, o que é correcto. No entanto parece ter sido rejeitado o alargamento da área das operações de socorro, para além das 30 milhas da ao largo da costa de Itália e de Malta, onde ocorrem a maior parte dos naufrágios e as consequentes vitimas mortais.
Percebe-se que este é um problema muito melindroso e que possui diversas variáveis que merecem adequada ponderação, nomeadamente no domínio da Segurança. Mas abandonar seres humanos à sua sorte, é de todo inaceitável.
“Escolher a vigilância das fronteiras da Europa e ignorar a necessidade urgente de salvar aqueles que se afogam é um insulto para os milhares que já morreram, é uma afronta insensível àqueles que não tem outra opção senão empreender esta perigosa viagem”, sublinha a Amnistia Internacional em comunicado.

A resposta a este drama terá efectiva eficácia quando a comunidade internacional decidir atacar as causas (pobreza e criminalidade organizada) em paralelo com a gestão humanitária dos seus efeitos. Umas e outros não se podem dissociar.    

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