ASSOCIAÇÕES HUMANITÁRIAS DE BOMBEIROS
Amanhã vou participar na apresentação pública de um
estudo de diagnóstico do sector não lucrativo em Portugal, elaborado pela
Universidade Católica. Este trabalho de investigação retira conclusões muito
importantes quanto ao futuro do chamado Terceiro Sector e do diversificado
conjunto de instituições sem fins lucrativos que o integram.
As Associações Humanitárias de Bombeiros (AHB)
inserem-se no Terceiro Sector. A relevância destas instituições e os desafios
com que se encontram confrontados justificaria a elaboração de um estudo específico
caracterizador da realidade actual das mesmas, enquanto instrumento de
planeamento da estratégia de desenvolvimento do seu futuro.
Infelizmente não parece haver interesse em realizar
este estudo, ou pelo menos assim parece.
Entretanto regista-se um consenso alargado quanto a
meia dúzia de debilidades que as AHB possuem, a saber:
1.
Excessiva dependência das verbas recebidas do
Estado e das Câmaras Municipais, uma vez que, em média, só cerca de 8% das
receitas são provenientes de apoios privados. Apesar de se considerar essencial
a obtenção de mais patrocínios, donativos e mecenato, só uma minoria de AHB têm
planos específicos para a captação deste tipo de investimento.
2.
Falta de um regime de financiamento alicerçado
numa base de cooperação das AHB com os Estado e com os Municípios, indexado à
tipificação do risco dos territórios de intervenção, numa perspetiva
multidisciplinar, envolvendo as áreas da Administração Interna, Saúde,
Segurança Social e todas as demais que se relacionam com a missão dos corpos de
bombeiros.
3.
Falta de ligação às comunidades locais, com
particular incidência nas zonas de concentração urbana, da qual resulta o
desinteresse associativo, a dificuldade de recrutamento de dirigentes para os
órgãos sociais e o estabelecimento de uma mera relação entre prestador de
serviços (AHB) e os utentes dos mesmos (cidadãos da localidade em que a AHB tem
sede).
4.
Ausência de uma política de gestão de recursos
humanos em regime laboral, hoje maioritários comparativamente com os recursos
humanos voluntários disponíveis, circunstância geradora de 95% dos conflitos
internos gerados entre Direcções e Comandos dos Corpos de Bombeiros, nos
últimos 5 anos, dos quais resultaram insanáveis roturas.
5.
Falta de inovação nos métodos e nas estratégias
de gestão e intervenção associativa, de formação e valorização dos
profissionais e dos voluntários de todos os sectores da AHB, de informação
dirigida ao público externo e interno da instituição.
6.
Falta de cooperação entre as AHB para melhor
rentabilização de recursos disponíveis na prestação de serviços, nomeadamente
na área do transporte de doentes não urgentes.
Estes são apenas alguns dos problemas com que as AHB
se confrontam desde há muito. Todas as tentativas para suscitar uma reflexão
séria, ponderada e consequente à volta destes problemas não têm tido êxito. As
razões são muitas e não cabem neste espaço. Mas será essencial que as
estruturas nacionais e distritais dos Bombeiros Portugueses não se deixem
enredar pela espuma dos dias e encarem esta reflexão como urgente, com espirito
aberto e capacidade de obter respostas e soluções, libertos da pressão da forma
e concentrados, finalmente, no conteúdo. E para isso é indispensável ter
presente que, como nos ensina um clássico, “sem inquérito não há direito à palavra”.
Gosto...pena que toda a gente sabe apontar os problemas mas poucos se dedicam, verdadeiramente, a resolvê-los...
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