O PALCO DO TÁXI
Parados na praça, os táxis
alinham-se em fila. Lá dentro, os motoristas aguardam, resguardando-se do frio.
Alberto foge à regra. Sentado na mesa da esplanada do café, em frente à praça,
aguarda a sua vez, para se dirigir ao carro e avançar na fila. Completada a manobra,
regressa à mesa da esplanada. Repete este ritual, várias vezes, até que chegue
um cliente e siga viagem.
Enquanto permanece na esplanada,
fala com os outros habituais utilizadores daquele espaço que, apesar do frio,
está normalmente bastante concorrido.
Um dia destes, Alberto falava com
um companheiro de circunstância, sentado na sua mesa habitual. Daquela
conversa, tida em tom bastante ruidoso, fico a saber que esteve emigrado 10
anos em França. Regressado pegou no táxi quando o sogro morreu.
Fiquei a saber algumas peripécias
por ele vivenciadas dentro do seu táxi.
Evoca “aquela velha loura das
plásticas” que o mandou parar à porta de um prédio de Lisboa para alegadamente
ir buscar dinheiro a casa para pagar o serviço e sumiu. “ Vi-a mais tarde na
TV, toda chique e comentei com os meus botões: és uma tesa que nem dinheiro
tens para pagar o táxi e estás para aí a armar aos pingarelhos.”
Lembra o político “penteadinho”
que, numa noite cerca das 4 horas da manhã, entrou no táxi perdido de bêbado e
apenas disse “Leve-me a casa”, sem dizer a morada. Esteve parado uns bons 5
minutos até que conseguisse dizer onde morava.
“E pagou o serviço? – pergunta o
companheiro de mesa. “Sim ele pagou. Se conseguiu dar com a casa, é que não
sei.”
Conta a história daquela jovem
passageira com um bebé nos braços que ao chegar à porta da Misericórdia de
Lisboa começou num prato e disse “Não tenho para onde ir. Vou ver se me
acolhem aqui.”
Entretanto abre uma vaga na fila
da praça. Corre para o carro e avança mais um lugar. Regressa à esplanada.
“Ah e aquela vez – solta sonoras
gargalhadas – em que no banco de traz do táxi dois marmanjos se puseram aos
beijos e aos apalpões.
“Dois homens? – pergunta-lhe o parceiro
de mesa – Sim dois gajos. Se apanhasse mais trânsito, estava a ver que ainda
via o parafuso a entrar na rosca …”
De repente salta da mesa sem se
despedir e corre para o carro, onde já esperava uma cliente. Entram no táxi e Alberto
parte para fazer mais um serviço. Sabe-se lá se para vivênciar, no palco do seu
táxi, mais alguma das suas pitorescas histórias.
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